sábado, 11 de outubro de 2014

Pois bem...depois de anos sem postar em um blog, venho aqui tentar registrar o desenvolvimento de um projeto que eu decidi fazer com o intuito de tornar meus dias mais suportáveis, além de ser uma tentativa de conseguir, através de pequenas atitudes, ficar em paz comigo mesma.
Durante 30 dias pretendo colocar em prática algumas ideias que há tempos não coloco por...pura preguiça mesmo, eu acho. Falta de interesse, procrastinação, enfim. Um dos pontos é: tirar, pelo menos, uma foto todo dia e escrever sobre ele. Começando por hoje.
Acho que a palavra que melhor resume meu dia de hoje é: Frustração. Frustração por, mais uma vez, não ter aproveitado o dia como gostaria. Não ter saído pra lugar algum (a casa da avó não conta) por falta de companhia. Sinto como se tivesse desperdiçando minha juventude, meu tempo, minha saúde mental nesse círculo vicioso que é o acordar tarde-fazer faxina-lavar roupa-ouvir reclamação da minha mãe dos meus eternamente entendiantes fins de semana. Hoje eu só queria ter com quem sair, ver uma cara diferente, ter uma conversa leve com risadas fáceis e uma paisagem diferente pra apreciar. Mas não...ao invés disso, saí com minha mãe, ouvindo as mesmas ladainhas e reclamações e estresses de todo dia, discussões infantis, elevações de vozes desnecessárias e um tempo gasto em vão. Um dia tão lindo pra ser aproveitado, pra ser curtido e todo mundo ao meu redor parecia simplesmente cego, só conseguiam ver seus problemas e enxergar as superficialidades das situações. Não que eu não goste de ficar em família, pois eu gosto. E sei que não tem como não ter algum conflito quando se reúne as mulheres da família da minha mãe, isso é praticamente inevitável. Mas é que hoje, só hoje, isso era tudo que eu não queria pra mim. Não queria me sentir presa naquela nuvem pesada de preocupações, queria me sentir livre. Queria não ter que fingir que está tudo bem sem, de fato, estar. Queria estar a quilômetros de distância dali, sem um destino certo, nem em nenhum ponto específico, só queria me sentir em paz. Mais frustrante do que ter que aceitar ir ao cemitério só pra sair de casa é retornar às 18h por não ter mais pra onde ir. E ficar morgando, mais uma vez, a noite toda presa, fazendo a mesma coisa de sempre: esperando o tempo passar sem fazer nada de útil, por não ter, simplesmente, forças nem motivação suficientes pra fazer algo de diferente que seja produtivo.
Embora eu saiba que precise aumentar meu círculo de amizades, o problema é como fazer isso. Porque aumentar eu até aumentei, mas elas não são, necessariamente, companhias, pessoas com quem posso contar quando preciso. E isso me deixa mais angustiada ainda.
Eu espero, do fundo do coração, que ao final desses 30 dias que eu resolvi me colocar em teste, as coisas realmente mudem, e pra melhor. Sei que tudo só depende de mim e que não posso mais ficar esperando as coisas acontecerem e vendo o tempo passar. Tenho que me esforçar e tentar aprender através de tentativas e erros mesmo, quebrando a cara se for necessário, mas arriscando acima de tudo, e não só pensando em agir e analisando como deveria fazer isso ou aquilo, alimentando um medo irracional e minhas tantas inseguranças.
Esses dias, inclusive, fiz algo que jamais faria antes: dar um primeiro passo num contato fora do trabalho com um colega de lá, que me confunde mais do que o normal e por quem eu estou (ou estava...deveria estar?) interessada. Não tive o retorno que esperava, mas também não fui muito feliz na abordagem, encontrei uma desculpa pra puxar papo e acabei me justificando demais, fiquei nervosa e não me expressei do que jeito que queria ter me expressado. Acho que ele percebeu, não sei, não sou a pessoa mais esperta pra perceber essas coisas. Meu desejo inconsciente de tentar achar uma pista de que a recíproca é verdadeira me impede de ver as coisas com imparcialidade, só ajuda a me iludir. Se eu já percebi um possível interesse dele, em coisas bem sutis, hoje fico me perguntando se não era tudo coisa da minha cabeça de vento mesmo, da minha fértil imaginação e se não distorci a realidade, vendo o que eu queria que fosse e não o que realmente era. Estou tentando desencanar dessa, mas seria muito mais fácil se tivesse um outro alguém, alguém pra ocupar minha mente e meus pensamentos nos momentos de carência. Fica cada vez mais difícil de encontrar alguém que desperte esse interesse repentino, genuíno e verdadeiro da minha parte, que não vai causar meu desinteresse inexplicável ao demonstrar que também sente algo por mim. Às vezes, fico achando que fizeram alguma mandinga pra mim porque é incrível como não dou sorte nesse jogo: só me interesso por quem não tá nem aí pra mim e não consigo me interessar da mesma forma por quem nutre um sentimento por mim. Tenho muita sorte nesse azar.

Por hoje, é só. A foto, não vou postar. Mas uma outra imagem, simbólica, só pra não deixar tudo tão vazio, tá valendo.


quarta-feira, 14 de maio de 2014

NOITES COMPRIDAS DEMAIS

Sim, bem amada, parceira de alma e de corpo, amiga da vida inteira, você sabe que há noites compridas demais para qualquer sonho. Noites insones, aparentemente intermináveis, que mais parecem não querer acabar nunca mais. Dessas noites de uma singela crueldade.
E você, doce flor do meu suburbano jardim, sabe mais que ninguém ser a passagem de uma noite como essa para a luz do dia ser de uma insônia quilométrica, uma noite que, enjoadamente, não vai embora, meu amor. E que teima em perdurar feito uma lembrança indesejável, um visitante inoportuno.
Talvez eu seja um desses deprimidos sazonais, um distímico de fim de semana, ou simplesmente, um chato de galochas metido a ser o que o ponteiro não marca ou somente um poeta solar que anseia ver o sol nascer mais cedo.
Você sabe que é inútil acender luzes, abrir janelas, contagiar-me com euforia alheia, pois há um inimigo chamado Tempo do qual ninguém escapa impunemente.
Um belo dia, quando menos se espera, todos nós acabamos por pagar o preço, que é sempre mais cruel do que imaginamos. Nem nos damos conta, mas o tempo passa e sem sequer percebermos, o tempo já passou e nós também, como folhas mortas boiando num rio indevassável.
Estar vivo, amanhecer vivo todos os dias, torna-se um verdadeiro e maravilhoso acontecimento, cuja dimensão o dia-a-dia, o rame-rame esmagador do cotidiano nos tira do alcance.
Num determinado momento da vida, ou estamos muito perto da compreensão do tempo e por isso mesmo demasiado longe dela, ou estamos muito longe quando já estamos próximos demais. Tudo se resume a uma questão de ponto de vista, se estamos insuportavelmente alegres ou imensamente tristes.
Raramente vou a festas e vejo as pessoas bêbadas ou cheiradas se abraçando como se saudassem o tempo, como se tudo fosse eterno e nada vão.
E pensam e agem e vivem esquecendo-se de que o tempo é uma Fênix renascendo de nossas cinzas e é a isso que chamamos impunemente de futuro, ah, que santa ingenuidade.
Não tenho medo do futuro. Meu medo é de não poder envelhecer dignamente, não escrever os livros que tenho por escrever, pegar uma doença ruim e de não poder amar você, Sônia Maria, por toda a vida.
Sim, amar você tanto quanto eu desejaria que pudesse. Não tenho medo do futuro, mas de perder você antes que ele chegue e me encontre sem defesas, frágil, a sós com meus fantasmas que habitam o escuro de mim mesmo, sempre à espreita, impiedosamente implacáveis.

(Airton Monte)